SAL DE OUTONO
Quando o dia cedeu parte de seu tempo à noite, nem seu caule grosso pôde protegê-la de tão fragilizada. Fez-se inerte, tronco calmo, numa tarde fria de outono.
Gotas salgadas se deslizavam simultâneas ao instante em que sucumbiam algumas folhas amarelas. Eram lágrimas que partiam melancólicas, porque outrora perfumaram a vida de verde.
Ah! E como escorriam densas e lentas pela casca daquela árvore!
Aquela planta padecia ao desfazer-se de suas partes. Quão difícil era sentir que cada folha e cada fruto se desprendiam sem que pudesse evitá-lo. Aos pedaços se entregava espargida ao chão.
Intacta e digna não recolheu o que a ela já não mais lhe pertencia. Se o vento soprava e o tempo levava, não tardaria para que voltasse a encontrar uma fresta para sol ou que algum pássaro se nutrisse de sua gema. Algo aprendera contemplando a direção para qual sempre se inclinam os girassóis.
Enraizada por seu destino, se resignou e começou a preparar a suas ramas para o repouso do inverno entrante.
Eis que um colibri pousou e absorveu uma gota da água de sal de outono que penetrava fundo nos galhos. Suco este que saciou a sede de suas asas, ao mesmo tempo em que alimentava os brotos das vivas flores e dos bons frutos da próxima primavera.
Agradecendo as lindas palavras de J Estanislau Filho
As folhas que caem ao chão
Indicam que natureza troca as vestes
O que teus olhos vistes
Fez bem ao meu coração.
Agradecendo o Pensamento do Colega Recantista GAJOCOSTA
“...Os ciclos naturais se sucedem e a vida se alimenta do que ela mesma um dia foi. Nada se perde. Ela retornará com nova roupagem, e nova florada de alegria, após inclementes, mas necessários tempos para a renovação...”
Agradecendo o belo pensamento do colega Antonio Maria S Cabral
“...O colibri provou para a velha e sofrida árvore que o que acontecia com ela não era a sua destruição, mas a sua renovação, e que, em qualquer estágio de nossas vidas, sempre estaremos envolvidos na holística cadeia do receber-e-dar...”
Agradecendo o lindo pensamento do colega Asterix
“...Oh! quão belo e intrigante é a dança da natureza,onde tudo se transforma para que a vida não perca seu encatamento...”