DEIXE QUE O AMOR SE VÁ.
 
Por Carlos Sena

 
 
Se o amor se foi, deixe que se vá. Se há uma coisa na vida que foi feita pra ir e vir foi o amor. Talvez ele faça isto porque precisa se nos dá lições antes de se estabelecer. Talvez até porque sua vocação seja a da transitoriedade, igaul a vida. Se o amor se foi deixe que se vá. O amor tem tempos que nem sempre são os nossos. Pode ser que nossa fase de vida seja uma “valsa”, mas o amor que a gente rega é um frevo. Ou vice-versa mais versa do que vice. O amor versa-se no que nem sempre fazemos e talvez por isto ele se vá cedo ou mais tarde do que imaginamos que acontecesse, daí ser o amor em seus tempos nem sempre iguais aos nossos. Por isto deixe que o amor se vá. Mas se for possível não deixe, prenda-o dentro de um local que só você conheça, mas com uma condição: perca-se do local, esqueça dele, porque só assim quando você for procurar o amor ele poderá ser encontrado. Talvez o grande segredo do amor seja a sua cumplicidade com o inusitado. Ele pode se esconder dentro de um cofre e você se encantar com tanto dinheiro com ele misturado. Ele pode se esconder dentro de uma flor e você pode se encantar com o perfume que inebria e te enche de paixões desmedidas pelo erotismo. O amor pode simplesmente se esconder no ar que respiras... Ah, o amor! Pelo ar que respiramos talvez possamos entendê-lo e evitar que ele, como todo bom perfume, tome o caminho das nuvens e não volte nunca mais... Mas se ele não voltar nunca mais, muita calma nesse momento. Nem sempre o amor nos dá dicas a respeito do seu abandono dentro de nós, senão não seria amor. Pode ser que você, de repente, abra sua porta e ele esteja lá, quietinho, misturado com a relva que protege teu seu quintal. Pode ser que nada possa ser e que ao mesmo tempo nele tudo se configure como se a vida fosse uma grande mágica que só ao amor compete operacionalizar.
Portanto, se o amor se foi, deixe que se vá. Mas se um dia ninguém bater a sua porta e você tiver a impressão de que bateram nela, não pense que está enlouquecendo. Talvez seja o amor dando uma de doido para se apossar de ti num toque improvisado em tua janela... Porque sendo o amor filho da vida, ambos são mágicos em suas configurações.
 
São Paulo, 03 de maio de 12.