Véspera da morte do poeta (poema)

Véspera da morte do poeta (poema)

Para o homem que vive apenas pelo prazer da existência, em busca de um êxtase que possa enfim dizer que por um instante foi feliz. Um alvitre infalível: não te empenhes por esse estado utópico, só encontrarás isso que tanto almejas quando não tiveres mais consciência do que sentes. Só a morte te proporcionará tal orgasmo, a inexistência é um gozo eterno. Todavia, não podes concordar com essa verossímil idéia estóico-epicurista, por seres discípulo do hedonismo.

Aqui do meu castelo real, eu fico a observar os homens comuns no seu caminhar enfadonho, e à noite, o meu campo de vista se torna sombrio, e o céu se mostra carregado, embora haja luz, só avisto à meia distância, e sobre a penumbra da lua cheia, vez por outra vejo um vulto de homem com asas de pássaro sobrevoar à minha janela.

Quando penso na liberdade do dia seguinte, outra vez a sombra da criatura alada cobre completamente o meu vislumbrar subjetivo, onde as formas não têm nome nem vida. Agora turvo está o mundo em volta da minha casa milenar, no meu divagar noturno as sombras e as dúvidas não se dissipam, e mais negra fica a minha sorte. Esta é a véspera da noite que traz ao poeta a morte...

Evan do Carmo
Enviado por Evan do Carmo em 31/01/2007
Reeditado em 31/01/2007
Código do texto: T364566