Eu morri na cruz por vocês
Eu sei, algumas vezes pode até haver a ideia de que meus passeios são agradáveis. Não são. Nem mesmo nas minhas melhores atuações, nas mais camaleônicas e escandalosas. Nem mesmo naqueles momentos, em especiais nos quais a noite suja do centro de São Paulo sorri pra mim, emanando seu bocejo quente e sarcástico de promessas.
A noite, sim, eu sei, ela é meio rasteira, sinuosa, algo sacaninha, o que não é mau, mas principalmente ela não tem muito interesse em saber se você é educado e cativante, trepidante ou atuante, se bebe uma cerveja ou esquarteja a garrafa na parede saindo ao léu atrás de uma jugular, querendo expurgar seus pecados em busca de um pouco de sangue ou então sendo jocoso dando uma lambidinha em um pescoço alvo e saboroso de uma fêmea leonina, rebelde e fiel.
Oh não, a noite não quer saber de nada disso, ela não gosta de trivialidades, ela é indiferente, não quer saber de demônios, dessas comediazinhas ridículas de porta de bar, de intrigas de alcova, de pensamentos imundos, rastejantes, delirantes nos quais um vômito borbulhante rasga o tecido do espaço e tempo contaminando o infinito...
Gabriel Desaix