O LAMPEJO DO AMAR

É impressionante como o ser humano se resume nos rodeios amorosos, tanto na solidão das ausências quanto nos toques presenciais. O amor é e sempre será o liame exato, a mola-mestra da condição humana. No fundo, no mais profundo de tudo – naquilo que pensamos ter e construir – ainda é o amor o bem mais precioso e o mais difícil de ser mantido. Porque é o sangue de viver escorrendo por entre os dedos, como a emoção que me foge agora, energia sobre o teclado, queimando o coração na candência de estar aqui, excitado e lasso. Não por mim, mas pela Amada, que me mora num estilete de dor e, curiosamente – nas pupilas – a antevisão para o dia seguinte. Para quem ama não há futuro, somente perspectivas de horizontes breves. Similar aos cravos nos pulsos do Cristo: doendo, doendo, todavia sapiente de que o amanhã será bom, porque tal sofrimento será passado... Mesmo que seja sensação de efêmera felicidade, apesar de todos desejarem o oposto. Essa é a ilusão e lâmpada de quem – possesso no outro – percebe e se apossa do verbo Amar. O seu lapso temporal é um lampejo. No entanto, capaz de relampejar a centelha da injúria e da ira...

– Do livro O AMAR É FÓSFORO, 2012.

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