O Fim
O Fim
O fim é o fim – acaba, termina, se finda, desaparece, deixa de existir. Puf – acabou...
O fim é esperado, sabido, começa a se findar muito antes do fim. As pessoas, por exemplo, começam a morrer no momento mesmo da concepção, do nascimento e vamos vivendo, como se pode, até o fim. O Universo também um dia irá acabar, dizem os fiscos, afirmam os teólogos – o fim dos tempos. Temos consciência disso e nem queremos saber. Afastamos, por medo ou ignorância, tal pensamento.
Mas aí é o fim material. Existem outros fins. Alguns nem são percebidos, outros são sofridos, angustiados e, o pior, se continua a viver com esse findar sem que o fim definitivo, libertador se apresente. Surge quando quer ou quando a gente dá um tiro na cabeça, desmanchando a armadilha em que nos enfiaram, sem nos consultar. Não gostam que se faça isso...
Refiro-me ao fim das ilusões, do amor, das esperanças, dos sonhos, da vontade de viver... Estes fins vão se achegando, devagarzinho, imperceptíveis até que se enraízam na vida das pessoas que quando se dão conta já se estão se esboroando, transformando suas existências em pura tormentosa vivência de frustrações...
Então não tem saída – é tratar de conviver, sofrendo com a consciência da extinção de alguma coisa que nos era grata, que impulsionava a vontade, a alegria de viver. Posso atestar que é assim, com segurança, por experiência própria, pela leitura de outros testemunhos, pela observação de outros sofrimentos, de outros vazios. Nesta situação somos zumbis – seres desprovidos de alma, de vontade e de objetivos futuros – movimentamo-nos pelo simples instinto de sobrevivência – sem razão, sem consciência, sem saber por que se prossegue na jornada – é pura rotina, repetição esperada. Tudo é ruim, sem gosto, sem tesão.
É preciso uma razão para a vida, para qualquer gesto ou ação humana – estou com sede tomo água, quero conforto e coisas gostosas para brincar ou comer, uma televisão de plasma, um computador mais potente, então preciso trabalhar, e assim por diante.
Mas quando se acorda e nem os dentes se quer mais lavar, quando o olhar com olhar vazio, onde uma janela que se abre para quaisquer paisagens é o supremo ato da sobrevivência diária associado às rotinas que se impõem – comer, defecar, urinar, dormir, banhar-se pois o silencioso fedor do decrépito corpo espanta as pessoas que te atendem na mercearia, que trocam teu dinheiro na compra de cigarros e de bebida.
Aguardar o fim dos fins, com alguma dignidade, é uma merda...
É preciso esperar. Se bater o medo ou as duvidas transcendentais do que virá depois do fim, então a merda é muito maior, muito mais difícil de ser suportada.
Cuidado há que se ter com o diagnóstico dos psiquiatras – deprimido... Te entopem de remédios que te conduzem ou a um porre terapêutico, pejado de falsa alegria, ou vão te deixar inerte, com uma expressão bestificada da derrota total perante a vida, sobre a qual não terás mais controle algum. A humilhação e a vergonha final a tal de depressão.
Eurico de Andrade Neves Borba, Ana Rech, abril de 2012.