QUE PAÍS É ESTE
Outrora já em tempos mais que idos,
caravelas ao mar soltas foram
E bençãos de mãos sagradas
receberam os marinheiros
a garantia de companhia divina.
E já em terras novas,
desbravadas a golpes de facões
e também mosquetões,
legiões aqui seus pés fincaram
E o capitão que em nome do rei aqui chegava,
dizia que era em paz que aportava e amigo seria
Porém, dessas lembranças sabemos apenas o divulgado,
mas não podemos nos enganar,
a história de quem vence é a que predomina,
pra se fazerem senhores, um povo foi dizimado
E a igreja que à nau bençãos mandava,
não ligava para aquele povo, que o rei matava
E se hoje ainda somos a nação do futuro,
qual futuro nosso será,
se ainda hoje descendentes daqueles são exterminados
E país que se constrói sobre cadáveres insepultos,
digo que país do futuro será, mas um futuro injusto
E eu nessa minha parca vivência,
que não trago na pele nenhuma marca de nascença,
transito por entre poucas certezas e infinitas dúvidas,
porém, duma certeza ninguém me arrefece,
sei que lá de outras bandas, em memória dedicada,
muitos ao chão pereceram, e isso me entristece
E se o mar trouxe gente aqui estrangeira
e de garbosos gentis senhores
que em nome da coroa essas terras tomaram,
digo que não eram garbos visitantes,
eram ladrões que essas terras roubaram
E lamento que a sina ainda predomina,
posto, que não há um dia que não veja,
larápios doutos roubarem do povo o prato à mesa
E a nação que em uníssono todos dizem ser do futuro,
isso não me agrada, pois sei que lindas casas escondem o muro
E para quem anda pela cidade e tropeça em gente iguais em tudo,
bem em frente á casa da justiça,
doutos senhores, se fazem de surdo mudo
E o quadro que de tão triste provoca enjoo,
dos aplicadores da lei, sinto algo perto de nojo
E pra terminar a tristeza aqui narrada,
dedico o que disse, ao meu povo, minha gente amada
Gente em tudo gente heroica e que me orgulha,
ao contrário daquela outra gente que em nada me aproxima