Eventual vazio
Se eu olhar para trás, terei a certeza de que sou uma pessoa realizada. Estudei em boas escolas, formei-me em Fisioterapia, casei-me, tive filhos saudáveis, moro em casa própria, consigo viajar nas férias e tive a oportunidade de ser “mochileiro”, no meu tempo de jovem, cabeludo e barba por fazer. Guardei economias por uns tempos, selecionei o país, e embarquei sem lenço, mas com documento. Essa frase foi para lembrar os bons tempos da Tropicália.
Vez ou outra, não entendo porque um enorme vazio invade meu peito, fazendo-me crer que não sou feliz, que não amo minha mulher o suficiente (na verdade acho que nunca amei de verdade) e, para piorar, não me sinto amado por ninguém. A começar pelos meus pais que me diziam “pra que carinho moleque! Quer se tornar uma mulherzinha, é?”
A diferença de idade entre mim e minhas irmãs era grande, então eu nunca participei de nada que as envolvesse.
A busca pelo amor atormentou meus sentimentos desde muito novo. Quando adolescente, eu achava que toda mulher, poderia ser a pessoa da minha vida. Firmei-me no namoro aos 18 anos; depois de dois anos conheci outra mulher por quem enlouqueci. Tentei manter as duas, mas quem muito quer nada tem.
Depois, namorei outra com quem me casei. Mesmo no altar, eu sabia que aquele enlace era um teatro para agradar familiares, a fim de que não pensassem que eu era um baita boiola.
Com o tempo, resolvi sentir o amor de um filho. Ah! Esse sim é um amor indescritível. Como é possível amar aquele ser tão ingênuo, chorão e que tira seu sossego para sempre? Sempre entendi que amor não se compete, então minha mulher era a mãe do bebê e eu o pai. Aliás, o coração de quem se torna pai e mãe é dividido em mil e um pedacinhos, pois amores diferentes precisam estar em seu devido lugar.
Confesso que o amor paterno é a única certeza que tenho, quando penso em amor puro. Mesmo os mais intelectuais e letrados não me convenceram do que vem a ser O AMOR. Castro Alves referia-se ao amor através da sensualidade e erotismo, Gonçalves Dias era patriota, sendo até hoje, parafraseado. Ao ler Mario Quintana, sinto que ele fala do amor ao próximo. Vinicius de Moraes fala da mulher ideal, poetas românticos desdobram-se em amores impossíveis, porque até morriam por eles.
E eu? Onde me encaixo nesse amor? Disseram-me que algumas pessoas nasceram para não amar. Essa “pessoa” tinha que ser EU? Estive em vários braços, camas, bocas. Sinto saudades de uma, em especial. Mas, por que essa tem que ser a do amor impossível?
Não morrerei por ela. Meu século é o XXI e não o XIX. Entretanto, preciso sufocar, controlar o sentimento que me incomoda; sei que ela me é impossível, mas provavelmente seja o que busco: O MEU AMOR.