Há tempos que não faço uso de espelhos.
Deixei de lado essas mentiras de o tempo passar
E levar minhas infâncias para além de nunca mais.
Há muito mais por ser entre o que penso e o que sinto,
Mas não minto e nada do que pressinto vale para viver.
Talvez só esquecer é o que realmente há de se fazer.

Sim, porque há vida, ela mesma assim mesmo como é
E só ela é que é o maior e o pior de todos os dilemas.

E nem metade dessa dor vai caber numa única linha,
Nenhuma palavra vai exprimir de fato toda a tristeza,
Não há verso algum que diga qualquer coisa desse vazio
E essa solidão só minha não vai caber num poema.

As lembranças enganam. As saudades sangram
E as duas colaboram em muito para a dor de já não ser...

Minha memória é um oco de estar vazia por si mesma
E toda saudade é este perder-se num imenso deserto.
Toda vez que posso me lembrar eu sou feliz,
Mas depois esqueço e por isso é que sou triste
Por tudo aquilo que sempre quis e nunca fiz,
Por tudo aquilo que sei que não mais existe.

Permaneço impassível a cismar diante do espelho,
Esse mentiroso de já há tanto e tanto tempo.
E deito em palavras o que nem sei de mim mesmo,
Num assombro sem tamanho de nunca mais saber.

Mas sei:
As memórias que vem voam e partem em azul
E as saudades sentidas sangram em vermelho.
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 24/04/2012
Reeditado em 07/05/2021
Código do texto: T3630468
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