O Primeiro Voo

Dois pássaros encontraram-se no alto de uma grande árvore desfolhada.

Um era pequeno e inexperiente, repleto de sonhos juvenis

E batia suas asinhas tentando aprender a alçar o primeiro voo.

O outro pássaro maior e mais sábio buscou pouso,

Pois suas asas cansadas estavam bastante machucadas.

O pássaro mais velho poderia ter despedaçado ao pequeno

Mas, encantado ficou, diante da vida que sentia brotar intensamente

E que carecia de alguma orientação para saber por onde começar.

O pequenino, por sua vez, pareceu fascinado diante da sabedoria do ancião.

Juntos, descobriram uma relação de amizade bela e diferente,

Desaprovada por grande parte dos outros animais.

O pássaro mais velho ensinou tudo o que sabia:

Como voar em direção às nuvens, como caçar em pleno ar,

Como pousar com delicadeza, como se prevenir dos predadores.

Não apenas ensinou, como também abriu seu coração

Acreditando que toda a devoção do pequenino era verdadeira.

Em troca, sentia-se feliz por dar asas aos sonhos do passarinho,

Em estar ao seu lado acompanhando seus progressos,

Sentindo fazer parte daquela felicidade que parecia tão constante.

O pássaro mais velho entregou o que havia de melhor em si

Apenas para fazer feliz o pequeno e valente companheiro.

O menor prometeu-lhe sua eterna gratidão,

Prometeu que quando finalmente alçasse voo traria ajuda

Para sarar todas as feridas de seu parceiro de plumas.

Encheu de esperanças um coração que sofria, já muito esgotado.

Finalmente, o passarinho conseguiu impulsionar suas asas

E enfrentar os ventos, voando cada vez mais alto,

Para grande orgulho e alegria de seu professor.

Então, em pleno ar, o pequeno novamente relembrou suas promessas

E partiu, deixando o ancião a esperar.

O velho pássaro esperou por muito tempo e um dia percebeu:

O passarinho se fora para sempre, levando tudo o que ele havia ensinado,

Deixando-o na mais profunda dor causada por sua ingratidão.

De que adiantou compartilhar toda sua sabedoria com toda a pureza?

De que adiantou amar tanto um companheiro e se dedicar a ele

Que não sabia o peso de uma promessa para um coração ferido?

O ancião compreendeu porque todos os outros animais desaprovaram a união:

No fundo, sabiam que um deles ia sair ferido e seria o mais frágil.

Embora o passarinho parecesse frágil e inexperiente, mas estava no vigor da juventude;

E o ancião, no fim de suas forças, só esperava encontrar um amigo de voo

Que pudesse fazê-lo acreditar novamente em sonhos,

Ele sim, era o mais frágil.

Ficou sozinho, ferido, com uma única certeza que seria sua chaga eterna:

Ele foi apenas o trampolim para o passarinho alçar o primeiro voo

Em direção a novos horizontes.

23/04/2012

Ana Claudia Brida
Enviado por Ana Claudia Brida em 23/04/2012
Código do texto: T3629165
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