Era uma vez um menino
Era noite fria, estávamos reunidos e proseando em torno de um fogão a lenha, tentando aquecermo-nos, quando alguém perguntou-me:
--- O que você vai ser quando crescer?
Garoto matreiro e de poucas palavras, fiquei supreso com a pergunta inesperada e permaneci estático e calado. Senti que a resposta me seria difícil e exigiria sensatez e sinceridade de mim. Não poderia por isso, - imaginava eu - dar uma resposta imediata e inconsequente. A pergunta ficou então no ar, sem resposta. Atualmente, se indagado sobre o meu futuro, responderia sem pestanejar:
--- Gostaria de ser um pouco daquele menino esquecido no passado. Possuir um pouco de sua fé, coragem e esperança dentro de mim. Quando nada, ao menos um pedacinho do seu coração para não perder a alegria e sensibilidade infantis. Adultos olham com a mente. Crianças olham com o coração. Deve ser por isso, que Jesus Cristo sempre as amou. Ao longo dos anos tornei-me um experiente navegante dos grandes mares da saudade, onde navego com meu pequeno barco verde de velas brancas da paz e amor, sem preocupar-me com lenços ou documentos. Os documentos, a tempos, joguei-os no mar. Despencaram nas profundezas oceânicas. Graças a Deus! Os lenços, aproveito-os para fazer os meus derradeiros acenos de despedida daqueles velhos e bons tempos. Quem sabe um dia, se eu já não tiver naufragado, ainda encontro-me com aquele menino para rirmos e chorarmos sobre as velhas histórias que juntos construímos?!Quem sabe? Somente Deus pode sabê-lo, mas Ele não gosta de nos revelar nada com antecedência. Enquanto isso não acontece e para não perder o hábito, levanto as velas e continuo a navegar.