Meu Verso, Meu Divã
Desconsolo cinza filtra parda manhã
Cocos ocos na areia sangrenta da vida
Meus imãs rumam ao incerto das vias, descorados estão
Sem vela a acender o ânimo
Sem beleza a intrometer-se no canto; não há resquício, não há intróito
Nódoa reticente e engraxada, assaz inchada
De olhos e bandeiras prontas, à procura da furtiva faca
A cortar os caminhos da quede melancolia
A engasgar os cotovelos cobrejando nos bares
A viajar no lúdico do penar, no subterfúgio do imaginar;
Deveria ter vindo com asas a aterrissar profundo num ás mudo
De pouca altura que não me causasse um dano
De touca impura que me pungisse o manto
Que me oferecesse a pluma em carne de ganso
Que me expusesse à inimaginável veste do prazer: viver
Consolo eflúvio em que todos os poros regozijassem e se partissem
Inda que todos estivessem lecionando, haveria de desviá-los;
Queria, humildemente, ter Tom em meu som, ter cara frívola sem batom
Nos repiques e nas esquinas do humor, lançar-me-ia em inquietudes ralas e desmedidas;
Pensava ungir idéias, celeiros em polvorosas, ilhotas
Planeava cultivar o joio, não a rosa, já que tantos o fazem
Devia possuir escamas a rejeitar o leito, santo que fosse
Despreocupadamente, prateado e quente
Tenda fugaz a me impelir os vezos
A me abluir dos cheiros, a me anuir nos degraus mais tórridos
A me reabastecer de ânimo.