Ondas mansas

Hoje fui rever o mar.

Interessante, como esse gigante tem o poder de conduzir nossos pensamentos, para paragens tão distantes...

Minha imaginação navegou, navegou...

O vai-e-vem incessante das ondas, com vibrantes colares de suave espuma branca, quebrando nas mansas areias da praia, foi me trazendo lembranças de um tempo distante, em que eu nem me dava conta, do quanto era bem aventurada. Afloraram sentimentos desencontrados.

Em poucos segundos, surgiram, como num passe de mágica, flashes de cenas vividas, com tal intensidade e colorido, que, num repente, inundaram minha alma, de vivas recordações.

Por alguns instantes o tempo parou. Apenas a emoção tomava conta de todo o meu ser. O ontem, o hoje e o amanhã fundidos numa só tela - e eu inserida nela: risos de crianças, gritinhos alegres "mamãe, papai", castelos de areia, mãos se tocando, olhos nos olhos, corações batendo no mesmo compasso,o frescor das ondas na pele aquecida, música no ar, guarda-sóis coloridos, balouçando ao vento, aroma de milho verde cozido, sensação de que o mundo estava ao alcance das mãos, - lembranças que, num emaranhado de sentimentos, agitam-se loucamente,avolumando-se numa entontecedora onda, vindo a quebrar-se nas areias duras da realidade, do aqui e agora.

Coração machucado, soluço abafado no fundo do peito, olhar umedecido pela emoção, urge reassumir o hoje.

Permitir-se o privilégio de admirar o mar, com carinho e deliciar-se, ante o espetáculo vivo e majestoso do balanço das ondas, que se descortina, incessantemente, no palco da natureza - tendo ou não expectadores.