[Outro Inútil Poema sobre o Tempo]
É claro: a minha linha de vida cruza o fatídico nó entre o Passado e o Futuro, ou seja: passa pela descontinuidade inoperante do Agora! Eu habito esse nó que é a síntese da vida de cada humano! É na singularidade absurda desse nó-gargalo de ampulheta que vicejam a ambiguidade, a incerteza, o jogo, o risco, e a pior das traições, que é a traição de si próprio...são "marcas de nascença"... traços tão indefinidos [ou vagos] quando o sinal de Caim!
Eu, danação de mim, ou garimpeiro de mim, arrasto o meu burro e sua pesada tralha por um vasto areal... e ao fazer caminho do próprio caminhar, vou mirando sonhos e perdas, e assim, cria-se em mim a noção do Tempo! Portanto, já que eu sou o criador do Tempo, não consigo pensar que o meu ser se estenda [no tempo]... longe, longe, atrás do meu nascimento, ou longe, longe à frente da minha morte! Foi com o veneno desta flecha que eu abati a noção de religiosidade que me fora incutida quando eu ainda era intelectualmente indefeso, e apenas tinha medo...
Por que eu penso o que penso... Oras.. para eu me ajustar minimamente ao mundo, ou para conseguir suportar o fato de ter nascido [e de estar vivo], eu devo me considerar imortal. Anotei para minha meditação: "Man should not let death attain the dominion of his thoughts"... O Homem não deveria permitir a Morte atingir o domínio de seus pensamentos... Mas eu tenho vivido sobre este signo terrível, desde que os meus olhos se abriram para a Luz Primeira da visão de uma cova...
Ah, outra madrugada insone... eu não tenho talento bastante para ser mais vago, mais impreciso, ou mais errático que isto aí... carece de encerrar aqui neste ponto, ó.
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[Passado no Desterro, em 17 abril de 2012]