Próximo passo
Bom, acho que chegou a hora de pensar em mim. Quantas vezes já falei das minhas curvas fechadas? Dos meus campos abertos? Das dificuldades? Dos meus reflexos quebrados no chão? Da minha caverna escura e fria? Dos meus rios quentes? Do meu penhasco ao pôr-do-sol? Da queda livre? Das fugas?
Chegou a hora de reinventar, mais uma vez. Sinto não poder enxergar muito do que acontece, não da maneira que deveria. Parece ser um passo no escuro, daqueles que a parte iluminada termina ali e você tem que pisar onde não enxerga. E a escuridão pode ser bastante coisa, pode ser uma queda livre para o infinito ao lado de uma cachoeira arrepiando meus ares. Pode ser apenas mais um chão a percorrer, com gramas e as vezes um calafrio. Pode também ser sorrisos empolgados e cantos de novas vindas. Pode existir medo e pedras que me tropeçam e me esfregam a cara no chão. Pode ser penhasco ao pôr-do-sol, e uma descoberta de que existe a possibilidade de pular fora disso tudo. E o mais interessante, um chão onde não se enxerga pode ser a mistura de cada um e muito mais.
Vamos tentar arrebatar um pouco de cada um, vamos ver se a glória de uma manhã permaneça mais um pouco, ou um sopro de vida nova. Mas quero as curvas fechadas, quero saber de cada uma que me arremessa quase pra fora de mim,mas me resgata sempre de volta. E talvez eu precise disso, de rodopiar pra fora de mim, de descobrir uma nova opção em ser humano. Vou jogar esses cacos fora,e com alguns reflexos eu irei construir uma escultura de mim, todos me refletindo em momentos duvidosos, me cochichando alguma ajuda, alguma resposta de situações vivenciadas. Das fugas? Eu quero fugir. E as dificuldades? Bom, fazer o que com as dificuldades? Se for mesmo uma queda livre com cachoeira ao lado, quero mais que elas se joguem de cima, e aprendam a voar, e assim amadureçam. Quanto à caverna e o meu eu guardado lá dentro, procuro tratá-los com o maior respeito possível. São eles que me acompanham desde sempre, desde que me tornei vida, são eles que vão se desfazer comigo, e retornar ao lugar de onde todos vieram.
As respostas? Amanhã talvez resolvam me dar um alô, ou ainda não é a hora de aflorarem de mim, porque acredito que as respostas estão do lado de dentro, esperando cada fase chegar. Acredito que as respostas são sócias da vida, participam do amadurecimento e do seguir em frente, e que seja assim.
Por enquanto anda escuro, e eu vou dar o próximo passo.