A vela é vital para que o zarpar aconteça. Em dias de tempestade, necessário se faz que ela esteja inteira, forte e resistente aos ventos que por acaso ocorram. E quantas intempéries terão que vencer, ou não...
            Quantas vezes nos rasgamos a um simples toque... Quantas vezes esquecemos os ajustes, as agulhas que a remendam, o escorar o tempo até que a borrasca abrande... O aceite aos rasgões. E são tantos, por vezes tão doloridos que o esgarçar acontece mesmo independente do nosso querer.
              Seguimos, vela aqui, vela acolá, vela enpinada, vela estufada, vela minguada, vela rôta. São tantas velas e somos tão poucos a cozê-las. E, de rasgão em rasgão, nada sobra da vela. Nesgas de tecidos boiam no mar, são pedaços de alma, são pedaços de vela. Só o mastro permanece imponente e despido, como se nunca tivesse acontecido em sua  vida uma vela que norteava seu andar. Aos poucos ele afina, afina, se verga e no primeiro vendaval, parte-se. Só então lembra que dependia de uma frágil vela para viver e entende que por maior que seja o mastro, precisa de sua alma  que é a vela.