PERMANÊNCIA
Eu o deixo ali,
jardim antigo que insisto em cultivar.
À distância, mergulho em suas teias verdes,
sementes e folhas mortas.
Deixo-o no canto das minhas lembranças
em meio aos verbos que arrancou de minha boca,
ecos de feroz ternura.
Deixo-o em meu peito,
espinho e bálsamo dessas feridas vermelhas
abrindo-se em velas de mal navegar.
Eu o deixo, vela de promessa em altar
do deus perverso dos solitários
e suas mil mãos de lembrar.
Deus de nunca se contentar.
Deixo-o trancado no escuro,
nos armários onde escondo
meus vestidos de amar.
Mas você volta sempre,
assombrando meus olhos,
perfume derramado em meus vasos nus.
Volta sempre, o barco de me levar.