ESCOLHAS

Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar". É verdade, mas isso só é possível aos olhos daquele que voa e esquece que é na terra firme que se colhe os frutos do seu trabalho. Todavia, e de outro ângulo, aos meros mortais que na terra ficam, ao verem os que se elevam aos céus, lhes parecem tão diminutos qual um pingo d'água no oceano, até porque, não se poderá afirmar se se está "vendo" um pingo, ou se não será um pingo de óleo a manchar aquele maravilhoso mar. Agora, se se pegar esse brilhante aforismo de Nietzsche (aqui o nobre pensador o retirou de um contexto mais profícuo à época do grande filósofo, o que já fora feito pelo Fuher, para justificar sua louca nova visão de mundo. Mas isso é assunto para outra ocasião) sob a ótica da nossa realidade, veremos que o voo aos céus dos nossos "representantes" aponta para um deslocamento real desses para com seus representados. Nesse sentido, a pequenez vista, para os que na terra ficam, se refere ao sentimento, ou melhor, à constatação, de que esses, como já se afirmou, parecem estarem no Olimpo. E Zeus, travestido de operário que luta por seus direitos, da sua torre de marfim, esbraveja suas verdades aos seus olhos incontestes; mal sabe ele que ao optar em dar as mãos à Hades, tão logo esse o levará para sua companhia. E a ave, deslumbrada com seu voo aos píncaros celeste não voltará ao ninho porque deste já se apartou a tanto tempo, que já não se reconhece seu morador, enquanto que na terra firme, multidões de mortais poderão ver o sol e sentir seu calor, junto do seus iguais. E para a ave que voa sem direção certa, porque já não sabe a qual espécie pertence, só restará o deserto da memória como mero efeito automático da existência. E o quadro será tão monocor, que a vastidão do universo lhe cegará as vistas. Aos que na terra ficam, mesmo que venham tempestades, sempre haverá a esperança do arco-íris. Por fim, a legitimidade e o reconhecimento das ações, mais do que precisarem ser verbalizadas, são referendadas pelo apreço que se nota quando, aquele que se intitula representante, se apresenta ao representado. E a constatação mais precisa se nota quando se dá ouvido aos anseios daquele que se supõe representar. Ou, noutras palavras: é preciso abortar o voo e aterrizar em terra firme. É por isso, que ao se optar por qual caminho seguir, não se poderá, sob o risco de se parecer estrangeiro, que deve-se andar sempre atento. É que, quando já não se tem tanta convicção, a escolha poderá ser negociada a qualquer momento ou por qualquer preço. E ao voo que se preparava, não tardará, para que a queda seja das mais notadas, e, mesmo que não aconteça a queda, o titubeante voo não acontecerá, porque da fragilidade com que se preparou, tornaria o voo da ave uma tentativa sem graça e desengonçada.