[Determinação dos meus Olhos: A Geografia do Inferno - Variante 1] - Revisitação

[Dou por bem avisado:

eu não sou o que eu escrevo,

sou só uma abstração de lírica de mim!]

Estou acorrentado a este meu nome;

mesmo desquerendo, jeito não há:

O meu nome, me diz, me entrega!

O estupor de ser-me, não me redime:

sou pedra asp'ra posta contra o tempo,

e no correr dos dias, das águas,

aliso as minhas arestas nos entrechoques...

Vivo preso a esta falta de sentidos,

a esta carência de projetos;

estou preso a este maldito trabalho,

passei a minha vida armando de sair dele,

sem jamais deixá-lo de fato, até que

ficou mais forte a luz da alforria,

então, me enrodilhei, estou à espera...

Na espera, o tempo se desmorona:

hoje está tão igual a ontem,

tão igual, tão igual que eu acho

que o sol perdeu o seu tempo

ao fazer amanhecer mais este dia!

Não tenho escolha,

não parte de mim,

não é de minha vontade:

são os meus olhos, só os meus olhos,

que determinam tamanha obviedade!

Sandice nascer, sandice viver:

só por que me falta a coragem

de me matar, mato-me de tédio!

Mentira! Mentira! Mentira!

Que comédia besta é essa!

Ah, de quanto cabotinismo

eu sou capaz... quanto?!

Na verdade, eu amo a vida;

a minha questão essencial é este mel

que a morte passa em meus lábios,

desde os meus cinco anos...

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[Penas do Desterro, 19 de junho de 2007]

Note added in proof: hoje em dia, vivo bestamente livre, num limbo... ou, no noante, como prefere a escritora Inês Pedrosa - "Fazes-me Falta" - Desterro, 09 abr 2012

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 09/04/2012
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