SAUDADES NUAS E CRUAS.

Por Carlos Sena


 
Hoje amanheci com saudades de mim. A minhas saudades devem estar perdidas nas esquinas, nos becos, nos guetos, nos... Só quem vive em plenitude se permite a ter saudades de si mesmo. Talvez essas saudades sejam as mais legítimas, pois que delas fomos o agente da emoção ou da razão subvertida.
Hoje amanheci com saudades de mim mesmo e por mim. A redundância casa bem com o passado que a gente mantém como premissa de presente e perspectiva de futuro. Hoje amanheci. Assim mesmo, como um dia de Domingo numa terça-feira. Como um dia de sol em plena chuva. Como uma sessão de cinema de um filme já visto, ou como o folhear de um livro já lido e por vezes repetido. Hoje amanheci como quem anoitece. Pelo entardecer, teço versos diversificados. Quando a noite acontecer quero dormir sem mim, pois pretendo me liberar em sonhos para encontrar saudades nas esquinas, nos becos, nos guetos, nus. Nós, sós. Eu, as saudades e a sorte de poder me reencontrar em mim e me reeditar para prosseguir o mesmo.