SOLIDÃO DE SÁBADO
Por Carlos Sena
Por Carlos Sena
A solidão do sábado é melhor do que a solidão do monastério. Há mistério em qualquer solidão, mas da solidão não se devem guardar segredos. Sempre que ela te perguntar algo, responda. A resposta que se deve dar é aquela despojada de intelectualidade, a mais simples que puder ser dada. Quando a gente responde à solidão, responde a nós mesmos pelo princípio do prazer que se descobre no passar das horas. Principalmente as horas do sábado embalado à noite. Ah, os embalos de sábado à noite! Ah, os assustados, a luz negra, o Rum com Coca cola, a calça boca sino, o sapato cavalo de aço... As pessoas quando passavam pelas outras, diferente de “gatos” como se chamam hoje, era “PÃO”. Como se vê, mudam os tempos, mas o que muda mesmo nas pessoas é a forma não o conteúdo; é o vocábulo, não a expressão.
A solidão de um sábado nunca será a mesma da outra pessoa e de outro sábado. O que há em comum é a forma de se curtir uma solidão neste dia tão cheio de combinações e de convites às baladas, aos encontros, aos diversos tipos de diversão que à noite se entregam e se misturam aos prazeres da carne nem sempre pecadora. Ficar em casa é bom, inclusive num sábado. Olho, da janela do meu apartamento, a negra noite se descortinar no infinito a se perder de vista. Ao longe, navios me brindam com suas luzes meio piscantes como que me chamando para além mar. No calçadão, ninguém se vê passar para mesclar a noite com pessoas só acompanhadas de suas sombras. Poucos são os que um dia não se assustaram com suas sombras, pois a gente quase que não para pra se olhar pra dentro, imaginem pra fora. Fora de nós há um sem número de ilusões que nos esperam para brincar com elas qual criança em dias de chuva; qual noiva radiante adentrando na igreja para encontrar o amado em cena nupcial.
A solidão no sábado é a mesma que do domingo. Contudo, acho que ficar só no domingo nos pode dar o inevitável desejo de rolar na cama até mais tarde, sem fazer nada.
Um dia do nada se fez o tudo e eu tive que me dividir entre os dois em busca de um terceiro sentido: o amor. No som incidental que invade minha salinha de escrever, “Dio Come Te Amo” se descortina ao som de um piano maravilhoso. Concomitante, me busco no olhar desértico rumo aos navios que pontilham a noite. Da praia da Boa Viagem, pouco se pode ver, exceto o medo que se esconde em cada poste, em cada grão de areia... Emoções! Nunca um sábado deixa de ter emoções mesmo pra quem está sozinho – sozinho fica quem não se tem. Corrijo-me: devemos sempre está conosco em todos os sentidos!
Assim, no respirar da maresia, decolo meu destino rumo ao meu cordão umbilical nas terras entre o bem e o mal. Afinal, sábado é um pouco dessa busca na superação da fragilidade humana... Eu sei que vou te amar – é o que me toca agora no meu interior... Cadê o meu amor? Não sei, mas talvez esteja pra lá de Bagdá, ou mesmo em Brogodó, ou nos Cafundós dos Judas ou apenas nos seus CUS. Comigo é assim: só escapam “dos are os aribu, do chão os cururu”... Meu amor anda lá pelas terras do país de Caruaru, sem direito a nenhuma rima sequer... Porque hoje é sábado, amanhã é domingo e, segundo o poeta, depois não se sabe o que será...