A CERCA DO AMOR
(Para Pietro Eymard)
Por Carlos Sena
(Para Pietro Eymard)
Por Carlos Sena
Qual é a cor do amor?
Qual é o tamanho do amor?
E o cheiro, e o sabor, e a forma dele?
Ah, o amor. Que bom seria se a gente pudesse dimensiona-lo como se dimensiona uma casa, um apartamento. Que bom seria se a gente pudesse organiza-lo como quem organiza uma viagem de férias, ou mesmo um guarda roupas.
Quais são as regras do amor?
Quais são suas receitas?
Quais são seus caminhos?
Ah, o amor. Quem dera se a gente, do alto da nossa insegurança diante dele, pudesse se segurar em alguma parte sua que, por menor que fosse, nos permitisse algum tipo de definição, de domínio e de poder sobre ele...
Qual é a idade do amor?
Em que tempo a gente deve se iniciar nele?
Em que momento a gente deve fugir dele?
Ah, o amor. Quem dera o tempo ou mesmo vento nos dessem alguma dica acerca do que sentimos para não nos enganar com sentimentos parecidos que nos poderão martirizar. Quem dera os anjos pudessem interceder para que, sendo jovens, amadureçamos pra ele; sendo maduro, rejuvenesçamos em seu destino. Quem dera sendo jovem ou maduro, mesmo idoso, termos tempo de regressar, diante das suas incertezas, quando fosse o caso...
Ah, o amor. Ardor que a alma atormenta. Frescor que dela se alimenta para que vivo ele permaneça nutrindo nosso ideal de ser feliz por inteiro. O grande dilema da felicidade é que só o amor lhe convém como força; só o amor se detém como alento dos nossos desatinos da vida nem sempre dolorida, mas quase sempre inesperada. Ah, o amor. Nutriente do existir e ao mesmo tempo entorpecente do desespero sem causa por sua falta. A falta do amor se transforma em eco no deserto, mas que logo se configura em alaridos de felicidade diante de um olhar, de um afago, de um gesto, de um luar, de ciciar sonoro de musicas do céu, de um véu que se despe no solidéu da noite como se ela noiva fosse. Ah, o amor. Quanta tinta e quanto papel já não se gastaram em seu nome, em seu louvor, em seu desencanto quando se parte. Quanta poesia dita, quanto soneto recitado, quanto conto mal ou bem contado, quanto canto cantado, quanta ode executada em tons maiores... Quanta oração oferecida, quanto santo santificado, quanta beata beatificada, quanto fogo apagado, quanto dia cheio de sol e outros tantos nublados. Amor de briga, de brincantes e brincadeiras. Amor recomeço, amor que se dá em recomeços, amor que se chora no consolo do terço, amor que dá vida, que dá esperança, que dá noites sem dormir, que dá dias sem nutrir...
Ah, o amor. Prefiro nada saber. Ou me enganar que dele tudo sei. Sei que tudo não sei pela brecha da telha que não consigo vê-lo. Quando abro a janela imaginando encontra-lo já se foi o desejo só restando da boca o beijo... Da realidade, faço o realejo do meu viver sombrio enquanto do outro lado da serra, a serração me anuncia que o amor se esconde por entre as nuvens do meu pensamento...