voz do menino sem cor
eu sou o moleque preto no retrato ao lado!
ah! não sou preto? sou negro?
talvez afro alguma coisa então?
nem um coisa nem outra? humm!!
na verdade
o que você vê não é a cor estampada no meu rosto - não - não é!
mas sim a cor dos meus olhos escuros fulminando as tuas retinas -
a expressão da minha face corroendo as tuas vísceras
feito moléstia cancerígena
eu sou a realidade ruim contrapondo a felicidade das tuas fantasias -
o desconforto e a miséria que a tua sorte não experimenta -
o coração valente que ataca com unhas e dentes
teu sonho mágico e pueril e você não sente nem quiçá sentirá
eu sou o oposto do berço esplêndido que embala teu sono -
o contrário da tua indiferente covardia que evita cruzar meu caminho -
a nua e crua desesperança encravada num mundo
preponderantemente injusto e inexorável
eu sou o abrigo do teu lixo onde garimpo meu alimento diário -
a vida maltratada que não escolhi mas a tenho goela abaixo -
e apesar de tudo isso rabiscado em letras miúdas mal desenhadas
eis-me aqui dando vida ao meu semblante cabisbaixo