voz do menino sem cor

eu sou o moleque preto no retrato ao lado!

ah! não sou preto? sou negro?

talvez afro alguma coisa então?

nem um coisa nem outra? humm!!

na verdade

o que você vê não é a cor estampada no meu rosto - não - não é!

mas sim a cor dos meus olhos escuros fulminando as tuas retinas -

a expressão da minha face corroendo as tuas vísceras

feito moléstia cancerígena

eu sou a realidade ruim contrapondo a felicidade das tuas fantasias -

o desconforto e a miséria que a tua sorte não experimenta -

o coração valente que ataca com unhas e dentes

teu sonho mágico e pueril e você não sente nem quiçá sentirá

eu sou o oposto do berço esplêndido que embala teu sono -

o contrário da tua indiferente covardia que evita cruzar meu caminho -

a nua e crua desesperança encravada num mundo

preponderantemente injusto e inexorável

eu sou o abrigo do teu lixo onde garimpo meu alimento diário -

a vida maltratada que não escolhi mas a tenho goela abaixo -

e apesar de tudo isso rabiscado em letras miúdas mal desenhadas

eis-me aqui dando vida ao meu semblante cabisbaixo

Wagner de Oliveira
Enviado por Wagner de Oliveira em 26/03/2012
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