De vidro fino e colorido
De vidro fino e colorido, expunham-se cuidadosamente acomodadas nas caixas de papelão, à espera de que as levassem, num caminho inverso ao da Natureza, para alguma árvore. Frutas exóticas, de insólitas formas e texturas diversas, tinham na superfície espelhada o seu maior atrativo. Brilhavam sedutoras e revelavam um rosto mais longo, o nariz jocosamente maior, o olhar oblíquo de quem finge não querer olhar...Um deleite! Por um tempo breve estariam ao alcance de todos os olhos e mãos pequeninas as sustentariam, de leve, quase uma carícia. Um tremor imperceptível denunciaria o desejo e também o medo. Logo seriam entregues aos braços rigidamente estirados do velho pinheiro e teriam a companhia dos festões e dos pequenos pirilampos coloridos. Cada qual com seu particular encanto, era superada apenas pelo ponteiro dourado espetado no galho mais alto.
Seis ou sete anos, se tanto, e estava enamorada das bolas de Natal! Intuitivamente compreendia que o amor é cercado de impasses, pois queria tocá-las, ansiava por retê-las firmemente, mas sabia que se o fizesse quebrar-se-iam e, ofendidas, magoar-lhe-iam as mãos. Ao devolvê-las à caixa de papelão, envoltas em papel de seda, exercitava-se na dura tarefa de compreender a vida.
2002