O não é uma fuga
Que haja bastante tempo para o amor. E já que para ele não há tempo bastante, que se dedique então muito tempo. E que assim não sobre tempo para o medo e para a fuga, pois o amor não se faz de "se" nem de "não", mas aceita e se afirma em si mesmo. E que a ausência não dure mais de um dia e (se durar mais do que isso) que dê gosto a solidão, para que nos acostumemos à sua presença acre e a limitemos aos nossos monólogos existenciais vitais. E que compreensão não seja subordinação e que aceitação não seja carregar nas costas o erro do outro, mas esquecer-se da existência de qualquer peso; os amantes não devem querer carregar os amados às costas, e longe do bom sentimento estaria acomodar-se às costas do amor, sendo assim caminharão lado a lado acompanhando o passo. Pois o bom companheiro não sobrepuja nem subalterna (embora o amor trate de dar-nos lugares de glória e de em outras horas de parecer nos negar um lugar).
E que cada letra da minha condição se perca como a nota desafinada da criança que toca a "Asa branca" na sua flautinha de plástico.