CREPÚSCULO - I
Reconhecer a grandeza do primeiro gestos pelas mãos que me embalaram ao nascer.
Honrar a sabedoria e o sentido do caminho que trago de berço para todo o existir.
Maravilhar-me com o equilíbrio do ar que me envolve, com o repouso seguro e necessário, com o labor diário que dá sustento e dignifica.
Sentir a brisa, o frio, o calor no contato da pele que reveste meu corpo, que toca o teu.
Experimentar com júbilo a capacidade e a energia que me permitem mover os membros, contemplar os contrastes das paisagens, captar os sons de gotas que tombam sobre a ramagem e distinguir os perfumes das rosas.
Admirar o voo acrobático das aves, o mergulho profundo dos cetácios e o veloz mover dos guepardos.
Aceder ao sabor do mel, à doçura do sorriso, à beleza das notas musicais.
Agradecer pelo livre arbítrio, que me faculta expressar ou silenciar em resposta à sã consciência.
Buscar entender razões e porquês de ter sido agraciado com vida feliz junto a ti, minha companhia e companheira única, mais à prole que é nossa, comparavelmente sem igual.
Isto tudo confesso-te, em desejo íntimo, do que não me aparto antes que em dado tempo me advenha o crepúsculo.