NO PROFUNDO LAGO
DA MEMÓRIA
Tantas vezes me invade a sensação dos sonhos que tive,mas eles escapam assim à mão da
memória,minúsculos seres
escorregadios, que ora se aproximam, ora se afastam, em um lago transparente e vago...
Assim parece também que não queremos de verdade lembrar deles, como da mesma forma muitas vezes não
desejamos o encontro com o amor, ainda que isso nos fascine e transtorne. Parece que, no vislumbrar desse voo de asas longas, tal ousadia nos assusta e intimida, e vem o temor de nos perdermos para dentro do mistério desse desconhecido sentimento. Então permanecemos na emoção da espera, como quem antegoza o paraíso avistado de um local seguro...
Ainda em outro momento, alguém pode estar ansioso por
encontrar um poema, escrito e guardado em uma folha esquecida há muito em um livro, mas talvez não queira mesmo encontrar finalmente o livro e o poema na folha...
Pois certamente o encontrando, ele possa parecer estranho,ou desconectado da expectativa, já que a emoção antiga agora está submersa, tendo se perdido pelos trajetos intrincados da memória.
Dessa forma, muitas vezes temos a sensação de ter sonhado algo extraordinário e, ao finalmente lembrar, percebemos que assim em vigília, o que nos vem dos sonhos é apenas a matéria bruta, e o essencial, o fluido cenário, o vapor da refinada emoção ficou nas profundezas insondáveis, ah, não direi do inconsciente, mas então pra onde vão as coisas de que nunca mais lembraremos?