Copo vazio
“Minha papoula da Índia
Minha flor da Tailândia
És o que tenho de suave...
e me fazes tão mal...”
A Montanha Mágica – Legião Urbana
O talco que passo no pé e me dou por contente. Estarei camuflado da vergonha quando tirar a meia. Mas aí tu colocas a meia, e passa mais talco, vai saber né, afinal sempre alguém pode desconfiar de qualquer coisa. Aí vem o sapato. Então te certificas de que não está sujo e passa mais um pouco de talco nos lados interiores pra que se sinta seguro. E quando vês estão todos de apontando, dizendo: olha lá como ele é estranho, não se satisfaz.
Até segunda ordem, ordem... ah tá. Até outro momento, vivo por mim mesmo e não ligo, todo o alicerce nessas horas não vale senão de posicionamento social, me apoio no que me resta, e o que resta é o frágil e sem valor. Todas as “eternidades da semana” viram basilares do rumo da vida e tudo vale. Corrompido! pode gritar mas eu vou dizer que sim, já com sede demais pra falar por mais de 1 minuto seguido e ainda vou te cobrir com um discurso bem organizado cheio de porques e complementos lúcidos até que todos aplaudam. E aplaudem.
Naquele bairro escuro é onde fica fica todo o mecanismo, a matemática dos amantes do pé que cheira bem, mas do cara que fala enrolado. Só artesanato. O bairro é escuro, mas é claro que não vamos te fazer mal, só estamos aqui pra garantir. Cada adolescente que garanta seu canivete. Corte.
O copo está enchendo até a boca, ah, estou retornando a ter os pés que cheiram a mim mesmo. Deixa esvaziar, ou transbordar, o que importa nesses instantes é que exista copo e qualquer coisa servente pra enchê-lo ou esvaziá-lo. Amanhã é outro dia.