QUANDO SÓ A LUTA DÁ SENTIDO

Eles já não mais se escondem

Andam às ruas em desfiles

e exibem suas belas armas

O corpo que tomba não assombra

a sombra da morte está na patente

e de repente o disparo,

no chão mais outro cadáver a elevar a estatística

E o esquife segue calado à sepultura

e lá jazerá outro pai de família

E eles sorrirão o riso vampiresco

e voltarão a seus nobres afazeres,

e voltarão para casa para outra noite de sono

E a viúva, no mísero casebre, velará os filhos

que já não comerão o parco alimento vendido

Até quando?

perguntarão estarrecidos os famélicos

e também seus parentes,

crianças e velhos

Nada mais,

já os aguarda o assombro de tristes dias

E o sol será escuro como a noite

e multidões sairão sem rumo

e gritos de dor se ouvirão por todos os cantos

Nada mais,

pensam eles, os donos do mundo

E se assustarão

quando o estrondo de firmes passos

lhes ensurdecerão

E a tenebrosa noite

cederá passagem

E novos dias a frente estarão

e se jubilará com abraços e festas

E será primavera naquele dia de outono