PERDAS E GANHOS
Sou muito, muito antiga.
Nasci no começo do século passado.
Fui menina de cabelos lisos e compridos.
Usei tranças amarradas, às vezes com fitas,
Outras vezes com tiras de pano.
Usava tiaras de florzinhas ou fios dourados,
Compradas por meu pai poeta e andarilho.
Uma vez ou outra trazia essas novidades.
Às vezes eram lindas sandálias.
Minha mãe cortava, modelava, tecia meus vestidos,
De bolinhas, de listas, xadrez ou bordados,
Enfeitados com sianinha, bicos de renda ou babados.
Vários modelitos de causar inveja às amigas.
Fui menina do tempo antigo,
Comandado muito mais
Pelos velhos e pelos homens adultos,
Barbados, bigodudos, autoritários,
Mil vezes mais do que hoje.
Esses "vigilantes" fiscalizavam,
Elogiavam, julgavam, condenavam.
Radares em pleno funcionamento,
Acatados, ouvidos, avalizados.
Fui moça daquele tempo.
Tive meus muitos radares,
Intra e extra lar.
Tios, primos (bem mais velhos),
Vizinhos incansáveis,
"Conspiravam" sobre mim.
Gente do bem.
Só queriam (e conseguiram)
Me salvar.
Baixando as portas do tempo
Passado, para balanço...
Avaliando o tanto do perdido
E o acervo do ganhado
Estar carimbado:
"Perdas e danos" meus acertos.
"Ganhos, meus erros.
Esta é a maior esquisitice e a falta de
Sinceridade nos versos meus".
Isis Dumont
Inspiração em "Lucros e Perdas" de Cora Coralina.