NEM NINGUÉM
 
Que lhe importa se me dói se é em mim que dói?
E o que importa se tanto me falta o tanto que me falta, se você tem?
E o que de fato importa qualquer alguém não importar a alguém assim
Tão sem importância também?
 
Deve ser essa minha natural antipatia
Sou desses que não cheira nem fede
Desses que passam e ninguém liga
Desses que falam e ninguém escuta
E não sou filho desta, esta mesma, a santa...
Sou desses que  se mostram e ninguém vê
 
Mas também sou daqueles
Que não vieram ao mundo para agradar a ninguém
 
Os poetas tem essa distração absorta
De modo tal que parece beirar a arrogância
Mas deve ser mesmo somente distração
Ou talvez eu seja mesmo antipático
E não me sirvam os disfarces de simpatia
 
E há muito já passei da fase de passar vontade
 
Tanta satisfação que tem que se dar para existir
Tanto trabalho isso dá, tanta dor de cabeça, chateação
Eu não, eu prefiro só existir e pronto! Já me basta...
 
Essa droga da linguagem, que inventamos, afinal
Só para explicar o que não sou, o que não sinto
O que não tenho, o que não penso, o que não digo
O que não suponho e não componho e nem pressinto,
Essa linguagem toda para disfarçar o que eu minto
 
Só que antes de dizer eu sinto...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 23/03/2012
Reeditado em 11/05/2021
Código do texto: T3571161
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.