Homem - Cadáver Adiado
Vida - batalha inglória.
Perene tal qual a mais frágil das flores, o menor dos seres vivos.
Vidas que nos entremeios guardam dores, anseios, amores, dissabores, desamores, cores, flores, esperanças, fantasias.
Vidas que o Pai empresta, sem data de validade - de modo que o ontem se foi, o futuro é agora e o amanhã não se sabe se existirá.
Vidas que se perdem nos amores falidos, nas relações doentes, no se preocupar por demais com as pequenas coisas, na visão monocular direta no próprio umbigo.
Vidas que se esvaem completamente perdidas para aqueles que ao invés de buscar o caminho através do trabalho, da formação profissional,
da ética e do respeito, tentam se impor nos dos semelhantes, quando da colheita da lavoura.
Em outras palavras, rejeitam os espinhos, porém se mostram vorazes quando da colheita dos frutos.
Vidas que perdem por completo o sentido quando arquivadas no comodismo, nas aparências, no bordão de que “está tudo bem” quando na verdade trafegam nas vias obscuras da opressão - não raras vezes pelo interesse.
Vidas navegantes no mar morto do descaso, ancoradas no porto da solidão.
Vidas carentes de um ombro amigo, de palavras alentadoras, de compreensão, de ao menos um naco do pão da ternura.
Vidas blindadas no frio aço da prepotência, na superioridade diante dos bens materiais.
Vidas tão pouco vividas...
Quando se percebe descortina-se a reta da chegada – ou da partida.
Desta realidade a ninguém foi dado o poder de se furtar.
Vidas que necessitam urgente praticar a caridade e o amor ao próximo, de acordar enquanto há tempo.
Vidas confortáveis, egoístas, amealhadoras do vil metal, das altas somas bancárias, vidas das almas precárias, indiferentes às conjugações
dos verbos amar e compartilhar.
Tudo fica neste lida, independente da vida.
Como escreveu Fernando Pessoa “O homem é um cadáver adiado”.
Bom refletir enquanto há tempo.
(Ana Stoppa)