Quinze anos
Eles corriam em volta da casa, corriam muito.
Tinham as faces coradas às gargalhadas mergulhadas no sol.
Ela mergulhava o rosto e disfarçava a vergonha.
Fugia da cigarra, do besouro, sentia medo de trovoada, da água turva no fundo do poço. Quando não via seus pés sentia nervoso.
Nervoso do mundo.
Só quando bebeu a água salgada passou a gostar de olhar o mar.
Seus olhos enxergaram melhor quando arderam molhados de sal.
Ela ardia e o mundo corria ao seu redor.
Percebeu que espremendo as vistas conseguia encarar o sol.
Foi perdendo o medo dos bichos, dos seus ruídos, dos brilhos e dos cantos deles.
Passou a amar, a gostar de chuva fina caída miúda na palma da mão.
Entendeu o trovão, os vaga-lumes, as cores do céu que a vestiram de flor azul num fundo branco.
Sentiu o gosto dos doces enganos bordados no avesso do pano, na barra da saia dos seus quinze anos.
Passou a contar os dias, a caminhar e esperar.
E quando um vento a pega na curva, bem no meio da rua, a poesia a beija num rompante de doçura.
Inverte a lágrima e ela caminha pisando em cristais de açúcar.