Amo palavras
Amo palavras desde que aprendi a ler, ou antes, talvez. O desenho, a sonoridade, o que podem extrair de nós e a habilidade que têm de insinuar-se entre olhares, acenos, lágrimas...ou de fugir das retóricas mais incendiadas.
Às vezes acodem-me em fluxos como o sangue de uma artéria cortada ou rumorejam como riacho. Outras, surgem como micos espertos provocando o companheiro ou vacas desavisadas, perdidas do rebanho. Ficam ali, inchando da minha atenção. E viro e as reviro, meço, peso e as atiro ao mar revolto dos meus pensamentos, certa de que haverão de trazer à tona uma infinidade de outras como elas, loucas pra flertar comigo. Por horas nos dedicamos a um namoro idílico e tórrido a um só tempo. Somos nobres ou miseráveis, famintas ou frugais, ferozes ou doces...E voam sobre mim como borboletas douradas de pólen. Pousam nos meus lábios, no meu sexo, minhas mãos, meus cabelos...E fecundam-me a alma, transbordam-me os olhos, nascem entre dores e adormecem serenas pra nunca mais ou daqui a um instante.
04 e 05/02/02