QUE POEIRA!!!!!!!!!!!

-Sinto muito, Ione, não posso acreditar no que vejo! Exclamou a amiga resmungona.

- Que foi dessa vez, sua intrometida! Revidei toda encharcada.

- Sua Escrivaninha, você não percebe? Ah, quanto tempo seus óculos estão vencidos?

Dando um muxoxo, respondi por entre os dentes: - Que é que está acontecendo com minha Escrivaninha? E daí se meus óculos estão vencidos? O problema é só meu... Pronto.

- Sinto muito minha amiga. Se quiser ou não vai ter que me ouvir. Sua Escrivaninha está EMPOEIRADA. Quanto aos seus óculos, não me refiro aos óculos que carrega sobre as ventas...

Revidei mais azeda ainda. - Ah, não? Que óculos são esses? Não os reconheço... Quanto a poeira... Isso faz parte do tempo... Não tenho culpa de nada. Às vezes chove, às vezes faz calor. Outras vezes o vento sopra forte, levanta poeira, folhas; derruba árvore, frutos ainda verdes... O jeito é deixar a poeira assentar.

- Falo dos óculos que tantas vezes causaram admiração quando você os usava... E às vezes, os usou muito bem. Refiro-me aos óculos do coração... Lentes aumentadas, capazes de perceber nuance, brilho, cheiro... Onde ninguém os podia ver ou sentir. Quanto à poeira na Escrivaninha... Você deixou que acumulasse de tal maneira que terminou tornando-se uma montanha, e não se preocupou com a limpeza do depósito. É como se quisesse dizer: DEIXA PRA LÁ.

Inclinando a cabeça, um peso enorme sobre as costas. Será que estou carregando o mundo??? Indaguei comigo mesma. Tristemente constatei, minha amiga falava com razão. Eu desistia gradativamente de permanecer lutando e desbravando os caminhos hostis. Tentei sacudir àquele trambolho que me fazia curvar cada vez mais. Não consegui. Decidida, resolvi do jeito que podia tirar a poeira... Conforme as forças que tinha, fui apalpando e limpando. As teclas foram aparecendo... Enquanto dedilhava, sem querer o texto ia saindo. Agradecida, olhei pra minha amiga que estava espreitando lá dentro; agradeci-lhe com um gesto conhecido, ela sorriu-me e decidiu voltar pro seu recanto.

Foi aí que descobri que duas vozes me mandavam mensagens contrárias. Enquanto uma me encorajava, a outra me amordaçava.

16/03/12

Ione Sak
Enviado por Ione Sak em 16/03/2012
Reeditado em 14/08/2012
Código do texto: T3557269
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