Tal qual rei



Como em fábula, nu estou, nu sinto-me.
Sinto-me nu. Nu...
Desnudo de todos os valores,
Desnudo de todos os pudores,
De todos os amores, de todas as dores,
De todos os temores, desnudo sou.
De todos os tremores, desnudo estou.
Invisível sou, invisível estou.
Já não sou visto nem lido nem ouvido nem sentido.
Sem sentido, sem sentir, sem permitir sentir, nem permitir amar nem odiar nem gostar nem desgostar nem falar nem expressar nem mais nem menos.
Nenhuma alegria, nenhuma tristeza, mas nenhuma agonia.
Nenhuma felicidade, nenhuma infelicidade, mas nenhuma idade.
Sem tempo para ter tempo sem tempero sem têmpora.
Sem tudo, sem nada.
Com tudo para ser nada para nada ser.
Ser sem alma ser, ser sem espírito ser.
Ser sem ser.
Sentir sem nada demonstrar, sem expressão, sem rosto, sem face, sem fase, sem visão ou audição. Nem tato nem olfato, sem palato.
Nenhum sabor.
Vida sem sabor mas sem dissabores...
Melhor assim, ser rei, nu, desnudo.
De tudo, de todos, de todos os usos e abusos.
Rei sem castelo sem rainha sem reino sem reinar sem pensar.
Ser pensado, conduzido, dominado, orientado.
Melhor nu, desnudo, invisível.
Nenhuma ambição nenhuma ação.
E segue a multidão a me ver sem enxergar minha essência minha existência meu íntimo ser meu ser íntimo.
O que vem primeiro? Minha essência ou minha existência? Existo sem ser ou sou sem existir?
Vã filosofia, filosofia vã.
Nem Sócrates nem Platão.
Nenhum pensante nem antes nem depois.
Somente nu, então. Nu...
De corpo, de alma, de espírito, de existência, de essência...
Invísivel, pleno, infinito, finito.
Sem início sem fim, finalizado antes de iniciado, iniciado antes de acabado, acabado antes de começado, começado antes de finalizado.
Com fim com início.
Início fim. Fim início.
Existo sem nunca ter sido.
Sou sem nunca ter existido.
Sou tudo e ao mesmo tempo sou nada.
Carbono, puro carbono. Alguma água.
Nada a mais, nada de menos.
Nada a menos, nada de mais.
Nem mortal nem imortal.
Quem sabe apenas um portal...
...
...
Nu , desnudo. Não de roupa, tal rei.
...
...
De outra natureza minha nudez.
De outro jaez.



Vauxhall
Enviado por Vauxhall em 15/03/2012
Reeditado em 15/04/2012
Código do texto: T3556869
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