Meras Palavras
Nós somos meras palavras. Daquelas que não entendem os humanos. Aquelas que se usam para perguntar por os humanos são paradoxais ao ponto de deixar de ser humanos procurando ser humanos, e ser humanos procurando deixar de ser humanos. E dizem algumas palavras que um humano sozinho não é humano, outras que não há humanidade maior que dois humanos juntos. E mais algumas que se pomos um terceiro humano no meio dos dois há uma chance de atitudes desumanas em busca de mais humanidade acontecerem. E as palavras continuam dizem muitas coisas. Dizem por si, e não se entendem. Assim como os humanos. As palavras observam os humanos espatifando suas humanidades e jogando os cacos em outros humanos. As palavras observam e carregam em si os cacos da humanidade. As palavras não sabem que carregam cacos de humanidade, apenas dizem por si. Alguns cacos de humanidade ferem e arrancam mais cacos que se perdem. Alguns se juntam a outros cacos e trazem mais humanidades. Há cacos que vem de palavras que surgem do seu lado, e outros que atravessam muitos, teias, redes. E assim os humanos que se tornam mais humanos se tornam menos humanos. E quanto menos humanos, mais humanos parecem. E as palavras continuam dizendo e carregando cacos de humanidade. Não são sábias, mas carregam vez ou outra alguns cacos que cutucam certeiramente. Certamente, as palavras não entendem. Nenhuma palavra entende. Os humanos também não.