DELÍRIOS
Um vira-lata faminto ao pé do poste a aliviar-se. O canino era só paisagem. Eu olhava o horizonte a pensar em nós. Um riso, uma lágrima e um olhar foi o que guardei pra ti. Vivi amores mil, inventei paixões para te recriar. Sofri. Mas amei demais, amei por aí. E fui me desamando, fui renunciando em favor de ti. Foi quando me dei conta de teu amor. Quanto amor! As borboletas em festa coloriam aquela tarde. Uma tarde amarelo-sol... Pessoas indo e vindo carregavam o peso de suas razões, enquanto eu tinha a leveza de teu bem querer. Alí eu renascia, posto que teu amor era o que eu mais precisava. Pude ouvir tua voz, ainda que distante, sentir teu olhar, ver teu sorriso. Tudo parecia presente naquele momento. Não fosse a paisagem a farejar-me o pé, estaria até agora a imaginar-te!