Desejo
Cresceu os olhos afiando as unhas do gato, o gato nada dizia, espichava seu dorso aguardando dos olhos mais um riso rumo ao infinito. Num salto surpreendeu sua dona, derrubou de suas pupilas ontens nos vãos do futuro. De pelos eriçados mordeu a língua do passado. Num único bocejo, morosamente engoliu todos os verbos por ela conjugados.
E ela, languida, livre, aprendeu o beabá do felino, deitada no fio da navalha, excitou-se a contar estrelas. De dedos estendidos perfurou o céu, lá no fundo, bem no fundo do Universo encontrou-se no espelho.
Nem era medo, nem era feio o Deus dos erros, era belo, era desejo...
"bebeu dos céus
o néctar dos anjos
serpenteou a carne
doou aos beijos, o corpo
amou, desarmou-se..."