COISAS DE UMA LOCALIDADE SINGULAR
COISAS DE UMA LOCALIDADE SINGULAR
Quando chega à tarde, o sol se pondo, a luz diminuindo,
as mulheres mostram as cabeças nas janelas.
Daí a pouco se recolhem para a janta da noitinha.
E depois das rusgas domésticas saem á porta,
fazem seus fuxicos e voltam para fazerem filhos e dormir.
Com o dia voltam todo mundo à vida vegetativa,
se nutrindo dos raios de sol e dos pingos de chuva,
sem querer saber o que se passa no resto do mundo,
vivendo o hoje, renegando o ontem e nem imaginando o amanhã.
Para eles o futuro não existe, bastam os afazeres de agora.
O máximo de felicidade é observar pela janela ou pela porta,
a vida alheia; e neste ínterim esperar a morte
entrar pela frincha da parede,
ceifando com sua foice a vidinha pachorrenta
e insignificante de cada um daqueles seres viventes e dormentes.
Abiscoitar uma risada, daquelas de gargalhar é um prazer maior,
até mesmo do sexo da noite, para fazer filhos;
seja este riso por causa do galo subindo na galinha, no terreiro
ou do compadre que levou um cabo de vassoura na cabeça,
dado pela comadre quando ele não quis fazer o dever de casa;
ou ainda rir de dar câimbra na barriga da comadre
que não deita com o marido há mais de dez anos,
mas tem um filho por ano...