ANDO SEGUINDO AS PEGADAS DO VENTO

ando pela praia seguindo as pegadas do vento. o sol se põe as minhas costas e me assento numa pedra dourada. assim me corôo rei da natureza. fumo, e a fumaça do cigarro são as nuvens que navegam pelo céu branco e rosa (ao meu lado sentinelas balançam de lá para cá – são os coqueiros). o vento zune em meus ouvidos, mesclando-se ao som das ondas que dirige como um maestro invisível.

estar vivo e ver o mar é o que me basta.

sentir o odor das algas na maré baixa – multicoloridas – compensa a vida e dissolve todas as dúvidas.

é uma dádiva a vida assim onde me afasto de mim como quem sonha que voa.

o céu sem gaivotas é branco como disse amiúde se expande até a gávea; na linha horizontal um navio metafísico ancora e os marujos se entregam sôfregos ao comércio. imagino a praia sem prédios ou casas, a baia litorânea só matas e vãos entre pedras e areia virgem.

levanto-me e sigo as pegadas do vento e navego. anoitece docemente e o mar de prata canta contando histórias sem começo nem fim.

o mar cria ilusões que a praia desfaz – eu estou longe de mim e não sei se o pensar em nada em que me perco é um templo – esse ser onde todo um panteão se revela súbito.

as caravelas se escondem entre as ondas e meus tênis cheios de areia fazem chiar os meus passos. é preciso varrer os homens para longe, a fim de que as luzes se apaguem e o enevoado céu seja constelado apenas de estrelas.

nosso mundo íntimo é pobre. por isso dançamos agora como símios, pois tudo já foi dito.

Valmont
Enviado por Valmont em 07/03/2012
Código do texto: T3540102
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