Scarpin Vermelho
No negrume da madrugada,
O scarpin vermelho chapinha na calçada imunda
O resto da chuva caída.
Na ginga do errante se adivinha o peso da morte,
Que agora mesmo pousou, fresca,
No talho profundo, que lhe rasga o ventre.
A luz baça, que desce,
Faz flamejar irregulares e fugidios filetes carmins,
Logo diluídos no torvelinho da sarjeta.
O pouco de vida ainda ginga teimoso
No passadiço do nada,
Mas a morte já lhe tem a posse
E, dona absoluta do que fora vida,
Já abandona o corpo caído,
Cujos olhos, abertos, brilham na luz baça, que desce.
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