Scarpin Vermelho

No negrume da madrugada,

O scarpin vermelho chapinha na calçada imunda

O resto da chuva caída.

Na ginga do errante se adivinha o peso da morte,

Que agora mesmo pousou, fresca,

No talho profundo, que lhe rasga o ventre.

A luz baça, que desce,

Faz flamejar irregulares e fugidios filetes carmins,

Logo diluídos no torvelinho da sarjeta.

O pouco de vida ainda ginga teimoso

No passadiço do nada,

Mas a morte já lhe tem a posse

E, dona absoluta do que fora vida,

Já abandona o corpo caído,

Cujos olhos, abertos, brilham na luz baça, que desce.

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Luiz Vila Flor
Enviado por Luiz Vila Flor em 07/03/2012
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