Amar, às vezes, dói.
Amar, às vezes, dói. E as lágrimas embaçam a mente, tornam o coração turvo e a alma conturbada. O passado e o presente têm o mesmo tom, se fundem, se mesclam. Amar não é a exatidão de uma equação matemática; uma vez é uma nota musical; noutra outra e no meio de uma e outra nota, um espaço de sem fim, no silêncio do nada, minha alma está, quieta aguarda o por vir, como uma esfinge que a tudo olha do cume de uma colina distante; a matéria chora, sufoca seus ais no mundo presente. Há areia movediça, há deserto; mas como dizia meu pai: "Quem bebeu água limpa comigo; não há de viver de tristezas", sei que mesmo em desertos há oásis, então curvemo-nos diante da nossa própria impotência de amar plenamente e bebamos água limpa. Mas o sentir do mundo, o sentir o mundo, o sondar-se, olhar para dentro de si e ver a matéria a sufocar a alma; presa da matéria. A alma quer voar; a matéria é estática e pesa muito, pesos seculares! Tormentas vãs. Tudo acaba, põe-se um fim. Um ponto na imensidão do universo. Queria olhar para o céu e ver refletido nele um imenso sorriso, um sorriso largo, um sorriso lindo, um riso de paz numa nuvem branca; mas está escuro. É noite em minha vida e o vento teima em dizer-me que as nuvens não sorriem; mas a aurora há de chegar um dia, ficarei a aguardá-la, vigiando a sua vinda, por isso estou inerte no cume da colina, de lá tudo vejo, tudo sinto; mas nada posso. Aguardo a aurora, sei que ela virá e com seu matizes de cores mil há tudo dará brilho, tudo resplandecerá e então eu sairei do palco da vida de mansinho, sem gritos, sem ais e me lançarei no etéreo para me fundir às luzes enquanto a matéria repousa. Amar, às vezes, dói, mas é tão bom amar, caminhemos caminhantes para onde? Caminhar é preciso, mas não há caminhos precisos.