ETROM 02
Aos meus velhos e eternos amigos...
Essa é uma confissão. Não procurem aqui o mesmo que vocês procuram em meus outros textos. Este não tem a minha lucidez poética, nem a minha paixão pelas letras. É apenas um desabafo. E prossiga quem sentir-se a vontade com as minhas palavras, e não comente aquele nunca passou pelas mesmas dúvidas que eu!
Ela demorou, mas finalmente achou um jeito de me fazer sentar e escrever. Minha ETROM não passou, nem nunca passará, afinal, eu escolhi ser escritora:
Não é a primeira nem a segunda vez que eu me vejo pensando no rumo que dei a minha vida. Se a quatro anos atrás eu tivesse feito uma escolha diferente eu estaria agora em outro lugar, uma outra cidade, fazendo faculdade, conhecendo pessoas, curtindo a minha juventude.
Mas não. Eu escolhi fazer uma família e levá-la a diante. Eu escolhi ter um filho e criá-lo. E ao escolher isto, deixei para trás tantas outras opções de vida que tinha listado para mim.
Hoje, quando me perguntaram quais eram os meus planos para 2007 eu não soube responder. Provavelmente por que eu absorvi a idéia de sobreviver e viver para meu filho e marido.
Eu não tenho ambições (não como as de todo mundo). A verdade é que eu nunca fui capitalista o suficiente para escolher uma profissão melhor ou lutar por um emprego melhor. Eu não me incomodo em terminar o mês com a minha conta bancária zerada, desde que eu durma bem e coma bem. O resto para mim é bobagem. Eu não ando com roupas da moda, nem bolsas de grife. Não ando em salões de beleza nem faço dietas. Se pudesse eu pagaria bem mais aos meus funcionários. Eu devo ser considerada uma boa patroa, mas não faz de mim uma boa empresária.
Eu prefiro investir em cultura, em lazer, no meu prazer, naquilo que me faz crescer e por isso recebo criticas diárias.
Eu sinto falta dos meus dias criativos, da escola de música, dos cursos de redação, das oficinas de artesanato, das reuniões com amigas (colegas, na verdade). Eu sinto falta dos namorados que não tive, das baladas que não fui, das cachaças que não tomei.
E fico imaginando que história eu vou contar para meus netos? (e essa frase virou lema de uma grande campanha publicitária. Tem tudo a ver. Idéia de gênio.) O quê eu vou contar para meus netos, se eu passei a maior parte da minha vida em casa. Matando o tempo. Inerte. Improdutiva. Depressiva e decepcionada comigo e com o mundo.
Ate hoje não sei o que quero ser quando crescer. Acho que eu queria ser um pouquinho de cada coisa. Às veses eu queria SER tudo e ao mesmo tempo nada. Eu queria TER tudo e ao mesmo tempo nada. Quem sabe sair com uma mochila nas costas e conhecer pessoas assim, loucas como eu. Filósofos da vida, que eu não encontrarei em nenhum livro.
Eu só queria ser grande. Acho que essa é a resposta. Tomar conta de mim mesma e mais ninguém. E aí eu lembro que eu me fiz todas essas perguntas há quatro anos (tão pouco tempo), quando resolvi fazer faculdade na minha cidade, quando conheci meu marido. Quando eu escolhi estabilidade ao invés de liberdade. Quando eu abri mão dos meus sonhos para lutar pelos nossos. Não era mais uma questão de conjugar o verbo em primeira pessoa, mas sim na 3ª. Nós.
E eu que só queria ter saído por aí. Ter feito amigos. Ter acumulado recordações. Acabei acumulando trabalho, despesas, roupa suja, mágoas, desilusões, ...
Eu que só queria ter sido grande. Ter chegado ao meu ápice. Ao meu limite e poder dizer para mim assim: agora sim chegou a hora. Eu já cresci, agora eu quero expandir. Mas na verdade eu expandi, para depois crescer. E ainda estou crescendo!
Eu nunca disse isso, mas eu havia feito uma promessa, de não me apaixonar por mais ninguém até que eu tivesse estabilidade emocional e financeira. Mas foi justamente por isso. Por falta de estabilidade emocional que eu me apaixonei. Loucamente. Fiquei dependente de amor, de carinho, de parceria.
Hoje, eu tento analisar minhas escolhas (as certas e as erradas) para fazer meus planos para o futuro. E novamente eu me pergunto o que eu vou contar para os meus netos? Sei lá. Eles não vão achar a minha história muito atraente. Ela é tão repetitiva. Uma jovem, grávida, aparada pelas mulheres da família e por meu marido, que nunca saiu do meu lado, que é fiel, parceiro, carinhoso, mas que tem um grande defeito, que o faz muito diferente de mim. Ele despeja cargas e cargas de responsabilidades sobre os seus ombros, preocupado com o rumo de tudo, como se tudo dependesse apenas dele. Enquanto eu penso em crescer meu pensamento, minhas idéias pelo estudo, ele cresce pela prática. Enquanto eu tento saber para não errar, ele erra para saber. Enquanto eu sou perfeccionista, ele é prático.
E entre essas e outras coisas, nós vamos em frente, soltando faíscas, armando tempestades, abrindo terras, pulando as fendas provocadas por nossos terremotos. E nessas a gente segue, não seu até quando, nem até onde afinal ainda estamos no começo, e estamos muito longe do fim.
E quantas e quantas vezes eu me levantei assim como hoje, após horas e horas sem dormir, rolando na cama, com a sensação se aperto, de angustia, querendo por fim em tudo, de sair pela porta e esquecer meu nome, sobrenome e começar do zero, quem sabe até nascer de novo.
Aí eu me lembro de meu filho, e da escolha que eu fiz por ele. Eu escolhi que ele deveria nascer. E neste momento eu me responsabilizei por ele durante toda uma vida. E vejo que eu posso oferecer para ele portas que eu não alcançava. E sinto inveja da sua pureza, da sua inocência. Do futuro que ele ainda irá trilhar.
Quem me dera eu soubesse a alguns anos atrás, o que eu sei hoje, e que ainda é tão pouco. Permitiria-me não errar mais, não ser tão frágil, tão fraca, tão boba para acreditar em contos de fadas e em felizes para sempre.
Por enquanto é só o que a minha mente cansada consegue lhes dizer a respeito da minha ETROM. Minha pobre e desalmada ETROM que me arranca da cama para lhes contar as loucuras que se passam na minha cabeça e no meu coração.
Ps.: prometo contar o que é Etrom e o porquê desse nome, assim que essa fase passar. (Será que ela passa?)
1º Domingo de 2007 – 23:15