CERTAS FELICIDADES

Há felicidades sem cor, sem cheiro, sem sabor. São as felicidades amorfas, filhas da inércia, filhas da covardia, filhas do medo, filhas da acomodação; as felicidades dos que cruzaram as mãos, dos que abdicaram de si mesmos, dos que se quedaram, inermes, no tanto-faz-como-tanto-fez da “própria” vida; em suma, dos que se deixaram quebrar completamente, pela própria ação ou melhor dizendo, pela própria inação.

Alguém pode perguntar: Como se pode dar o nome de felicidade a isso? Pode-se, assim como alguém que tenha adquirido apego aos próprios cabelos ralos, aos próprios dentes cariados, tanto quanto à monotonia e à ausência absoluta de liberdade, da primeira à vigésima-quarta hora, de segunda a domingo, do primeiro ao trigésimo dia de cada mês, de janeiro a dezembro de cada ano, e assim sucessivamente.

Desse modo caminha boa parte da humanidade: sendo perfeitamente feliz dentro da mais perfeita e completa infelicidade.

Na tarde de 05 de março de 2012.