Por um breve momento

Por um breve momento eu tive a nítida impressão de que ela me abraçava candidamente, de uma maneira frágil, de um jeito leve querendo ser mais forte, um tanto formal quando seu desejo era de que fosse, tal abraço, mais denso, mais íntimo.

Em outro breve instante tive eu clara visão de um sorriso dela, sorriso enigmático, daqueles que incluem os olhos, de despedida, com toque de cumplicidade, até certo ponto maroto, posso dizer até um tanto malicioso.

Mais um outro momento, vejo-a a chorar, soluçar, ao assistir uma comédia romântica, naquele estilo de final feliz, de amor reencontrado, de promessas renovadas, de vamos tentar novamente, por certo vai dar certo. No chorar, olha-me, encara-me, pega e aperta minha mão, abraça-me, e beija-me na boca, boca a boca, beijo de língua, beijo francês.

Ainda noutra ocasião, sinto-a a vir em minha direção, por sobre a cama, busca-me, cobre-me, lânguido beijo, sôfrego arfar, aconchega-se mais e mais, procura-me, pega-me de jeito, assim, faz movimentos de dominação, prende-me ao seu corpo, possui-me como se fosse a última vez, como se fôssemos os últimos seres na face da terra e responsáveis pela preservação da espécie.

Triste agora, verifico, tudo não passou de ilusões, frutos de minha mente em momentos, breves momentos, que antecedem a imersão em sono profundo, em que o cérebro vai pouco a pouco desligando-se , de sinapses em sinapses, breves curto-circuitos, a tudo liberando, íntimos desejos, íntimos anseios, anseios de amor, desejo de amar, necessidade de ser amado, que todo ser humano tem, desejo maior até do que os desejos carnais, mas que através deles tem sua expressão máxima, por demonstrar tudo o que somos capazes de fazer, de realizar, de executar, de nos submeter, para simplesmente amar e demonstrar, provar esse amor, provar desse amor, provar esse amar, provar desse amar, mais e mais, dia após dia, uma condição sem fim, infinita.

Foram breves momentos apenas, fugazes momentos, nítidos instantes, nítidas impressões, nítidas sensações, a percorrer todo o meu corpo, eletricamente.

Breves momentos que parecem durar eternamente.

Coisas da mente, pré-demente.

Vauxhall
Enviado por Vauxhall em 04/03/2012
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