Coletivos

Das janelas dos ônibus eles olham :

as casas, edifícios,condomínios

que nunca habitarão.

Das janelas coletivas eles vêem,

dia a dia até o entrar da noite :

os palácios governamentais,

as mansões patriarcais,

monumentos,

shoppings,bancos monumentais,

que jamais visitarão.

Olhos de peixe morto,

cardumes de sardinhas suadas,

contemplam as boates,

galerias, clubes, sociedades,

restaurantes, bares, cafés, teatros, butiques,

lojas e lojas, mesmo templos e igrejas,

onde nunca entrarão.

Das janelas de vidros emperrados e sujos dos ônibus,

através da poluição dos carrões, das motocas, da Rota,

eles vêem :

os pórticos dos cemitérios de túmulos belíssimos,

que nunca visitarão, nem mortos,

mesmo ao saírem das suas escotilhas,

dos seus subúrbios,

pois que deles para as fábricas, para os escritórios,

para as lojas:

e delas para os subúrbios-

A vida vale-transporte.

Zulcy Borges
Enviado por Zulcy Borges em 29/02/2012
Código do texto: T3526686
Classificação de conteúdo: seguro