DISTANTE DO PARAÍSO

Sinto que é preciso abortar a missão.

O sol é inatingível estrela em fusão.

Não pretendo desbravar tantos mistérios.

Creio que seja impossível tudo o que quero.

Talvez tenha que subir a montanha

E contemplar o vôo calado dos pássaros;

Aves de rapinas que gritam sua fome.

Talvez, não sei...Eu aborte a missão!

Talvez eu prejudique os seres ao redor e

Por isso, prejudique a mim, também.

Minha sensibilidade é tamanha,

Tal qual o cume desta montanha.

As lágrimas nem sequer deslizam.

Logo, vem o vento e as secam.

Tudo aqui por dentro é solidão,

Um grito mudo, um gesto indefeso

E um sopro quente no coração,

Quais labaredas de narinas de dragão.

Encolhido e recolhido ser, sou eu

Sentindo o autoflagelo de minha alma

E os temores, cada vez, maiores

Quanto os tumores doridos e expostos.

Vôos sem asas e sem paisagens.

Bagagens abissais e desnecessárias,

O sol perdera o horizonte de onde

Se prostrava e não fizera abrir as

Pétalas das flores e, com isso,

Morreram tristes e famintos

Os pássaros, as borboletas, as abelhas

Por fim, acho que abortaram a missão

De construírem os teus ninhos,

De entoarem os teus cânticos, enfim,

De refazerem um belo favo de mel

Numa colmeia resplandecente ao sol.

E, por isso, desolados e aflitos,

Desmaiaram-se e secaram os girassóis

Entre os trigos, de onde os joios tomaram

A fertilidade de uma vida promissora

E o ébano se fez na aldeia aonde habitava

Uma sensibilidade que acreditava ser o sol.

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®

Giovanni Pelluzzi

São João Del Rei, 28 de fevereiro de 2012.

Giovanni Pelluzzi
Enviado por Giovanni Pelluzzi em 28/02/2012
Reeditado em 12/02/2014
Código do texto: T3525098
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