IRMÃ TERRA
Não aponte esse dedo sujo,
ele traz o sangue do operário
que você matou em cumprimento
de ordem atroz
e, com gesto igualmente atroz,
transformastes no operário da morte.
Aquele lençol que cobre o corpo
foi tecido no tear
mais antigo que seu pai.
O tear traz a história de gerações,
o lençol, as marcas de mãos cansadas;
mãos que calaste
num simples apertar do gatilho
e que agora repousam sobre o peito
inerte e rijo,
e que nunca mais
se estenderam para o cumprimento fraterno.
A terra que receberá aquele corpo,
receberá um irmão
que dela toda vida cuidou,
e ela o receberá como uma semente,
e que seus frutos
calem a voz dos que o povo explora.