Nas águas, no rio, no tempo

Um desenrolar, um pensamento avulso, ondas chegando, mais e mais.

Somos todos grãos de areia, somos todos e muitos, somos vários. Não sabemos nem a metade do que esse rio nos proporciona, e vários não sentem essa vibração pulsante, essa desilusão doce.

Quase ninguém consegue perceber esse gostinho irônico do grande rio, preenchido pelas correntes do tempo carregando, empurrando bem devagar, numa velocidade onde as mudanças não são percebidas com facilidade. Uma velocidade quase inerte, mas poderosa, forte e completamente misteriosa.

Somos regidos por isso, pela velocidade lenta a qual governa tudo desde sempre, movendo, transformando, misturando, criando, e talvez até brincando com as nossas razões, nossas certezas. Estamos completamente a mercê do tempo, do inesperado. Fomos obrigados a viver quase uma ironia, a perceber a imensidão do rei das virtudes comparada as nossas dificuldades superadas ao longo da vida. E veja como somos tão egoístas ao ponto de não percebermos o quanto somos pequenos, o quanto nossas preocupações são apenas os grãos de areia de uma praia misteriosa, encantada.

Quem sabe, nessa imensidão existindo, coexistindo, tentando existir, um dos objetivos seja esse, carregar da vida só o que o tempo proporciona, só aquilo que ele permite levar.

Rangel Goulart
Enviado por Rangel Goulart em 27/02/2012
Código do texto: T3522399
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